ANTICONCEPÇÃO NO CLIMATÉRIO
O Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) do Ministério da Saúde registra que, no ano de 2002, 4270 gestantes - com idades entre 45 e 59 anos – tiveram filhos. Entre estas, 4195 situavam-se na faixa etária que vai dos 45 aos 49 anos; 65 tinham entre 50 e 54; e 10 ultrapassavam as 55 primaveras por ocasião do parto. É possível que muitas dessas mulheres tenham engravidado voluntária e premeditadamente. Entretanto, creio que outras tantas foram surpreendidas com o resultado “POSITIVO PARA GRAVIDEZ”, enquanto acreditavam que a falha menstrual era apenas um sinal da proximidade da menopausa.
Até os 35 anos de idade, a possibilidade de uma mulher engravidar (no intervalo de um ano, tendo de duas a três relações sexuais por semana) é de aproximadamente 85%; entre os 40 e 44, esse percentual cai para 10; entre os 45 e 49, ele diminui ainda mais, situando-se entre 2 e 3%. Vejam bem: no climatério, a fertilidade diminui progressiva-mente; porém, a certeza absoluta quanto à impossibilidade de conceber – pelas vias naturais - só é alcançada depois de um ano após a última menstruação (menopausa). Um outro fato a ser considerado é que, com o avançar da idade (sobretudo após os 40 anos), há um aumento do risco de complicações gestacionais, tanto para o lado materno – pela concomitância de doenças prévias, como cardiopatias, hipertensão, hipotireoidismo e diabetes –, quanto fetal (baixo peso ao nascer, prematuridade, síndrome de Down, etc). Portanto, no climatério, a gestação não deve ser fruto do acaso, da negligência ou da indiferença; mas, ao contrário, ser criteriosamente planejada, levando em consideração as características biológicas – e as repercussões psicossociais – específicas desta fase.
Segundo dados da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, realizada em 1996, pela BEMFAM (Bem-Estar Familiar no Brasil), os métodos anticoncepcionais mais utilizados pelas brasileiras, com mais de 30 anos, foram: a esterilização cirúrgica, a pílula e a camisinha (nesta ordem).
Para a mulher climatérica - que já completou a sua prole e possui uma situação conjugal estável -, a “ligadura das trompas” é, sem dúvida, a melhor opção. Os índices de arrependimento com a radicalidade deste método são inversamente proporcionais à idade da paciente.
A progressiva diminuição do conteúdo hormonal das pílulas anticoncepcionais proporcionou maior segurança (e menores riscos à saúde) para as mulheres - inclusive para aquelas que estão próximas à menopausa. Desde que não haja contraindicações absolutas (antecedentes de doenças tromboembólicas arteriais e venosas, fatores de risco para doenças cardíacas, disfunção hepática, etc.), “a pílula” é uma das alternativas mais acessíveis à população feminina de baixa renda. Os adesivos transdérmicos e o anel vaginal inauguraram duas novas vias de administração dos contraceptivos hormonais combinados, acrescentando mais comodidade para as usuárias. As adesivos são trocados a cada semana durante três semanas, seguidas por uma semana de intervalo. O anel é colocado no interior da vagina - pela própria paciente - e lá permanece por três semanas, quando então é retirado e feito um intervalo de uma semama. Mulheres fumantes, com mais de 35 anos, hipertensas e com colesterol alto não devem fazer uso de contraceptivos hormonais combinados. Neste caso, os mais indicados são os contraceptivos que contenham apenas progestagênios.
Os contraceptivos que contêm apenas progestagênios – sob a forma de comprimidos, injeções trimestrais e implantes subdérmicos de etonorgestrel - agregam a vantagem de proteger o endométrio das hiperplasias, tão comuns na pré-menopausa; entretanto as injeções trimestrais de medroxiprogesteona estão associadas à diminuição da densidade óssea (osteoporose) entre as usuárias, o que não é observado no implante subdérmico de etonorgestrel.
O DIU com cobre, cuja troca – dependendo do modelo - é feita a cada cinco ou dez anos, pode ser uma opção interessante e de alta eficácia, principalmente para aquelas mulheres que possuem contraindicações para a contracepção hormonal. São dois os principais tipos de DIU com cobre disponíveis em nosso país: o Multiload Cu 375 e o TCu 380 A, com validade, respectivamente, de cinco e dez anos. O SIU (Sistema Intra-Uterino) é um DIU que desprende pequenas doses diárias de levonorgestrel (LNG) ao longo de cinco anos. O SIU reúne, num só dispositivo, proteção contraceptiva e endometrial.
Enfim: existe uma ampla gama de recursos anticoncepcionais para a mulher climatérica. Entre todos, os que apresentam maior número de falhas são os chamados métodos naturais, baseados no “período fértil” ou na data provável da ovulação (tabelinha). A irregularidade ovulatória - e menstrual - que se instala na pré-menopausa inviabiliza completa-mente a adoção desses métodos (!).
Abaixo apresentamos uma tabela(*) mostrando as opções contraceptivas mais adequadas, as opções alternativas e as não-recomendadas para as pacientes acima de 40 anos de idade, correlacionando-as com a sintomatologia primária ou história clínica apresentada pela paciente. Estas opções poderão servir de ponto de partida para que as pacientes, sob orientação de seus médicos assistentes, tomem a melhor decisão.
Sintomatologia primária ou história clínica apresentada pela paciente |
Opção mais apropriada |
Opção alternativa |
Opção não- recomendada |
Volume menstrual aumentado |
Sistema Intra-Uterino (SIU)
com levonorgestrel. |
Anticoncepcionais combinados hormonais orais, anel vaginal, adesivo transdérmico, injetáveis trimestrais. |
DIU com cobre |
Fogachos
(ondas de calor) |
Anticoncepcionais combinados hormonais orais, anel vaginal. |
Adesivo transdérmico, injetáveis trimestrais. |
Sistema Intra-Uterino (SIU), DIU com cobre, implante de etonorgestrel. |
Volume menstrual aumentado e fogachos |
Anticoncepcionais combinados hormonais orais, anel vaginal. |
Sistema Intra-Uterino (SIU) + estradiol transdérmico, adesivo transdérmico, injetáveis trimestrais. |
DIU com cobre, implante de etonorgestrel. |
Fatores de risco para osteoporose |
Anticoncepcionais combinados hormonais orais |
Anel vaginal, adesivo transdérmico. |
Injetáveis trimestrais, implante de etonorgestrel, Sistema Intra-Uterino (SIU), DIU com cobre. |
Preferência por método que independa de lembrança, hábito ou comportamento. |
Esterilização (laqueadura tubária), Sistema Intra-Uterino (SIU), DIU com cobre, implante de etonorgestrel. |
Injetáveis trimestrais, anel vaginal, adesivo transdérmico. |
Anticoncepsionais combinados hormonais orais, preservativo masculino, camisinha feminina e diafragma. |
Fumante |
Esterilização (laqueadura tubária), Sistema Intra-Uterino (SIU), DIU com cobre, implante de etonorgestrel. |
Injetáveis trimestrais, preservativo masculino, camisinha feminina e diafragma. |
Anticoncepsionais combinados hormonais orais, anel vaginal, adesivo transdérmico. |
Antecedentes pessoais de câncer de mama |
Esterilização (laqueadura tubária), DIU com cobre. |
Preservativo masculino, camisinha feminina e diafragma. |
Anticoncepsionais combinados hormonais orais, anel vaginal, adesivo transdérmico, Sistema Intra-Uterino (SIU), implante de etonorgestrel, injetáveis trimestrais. |
Obesidade
Índ. de Massa Corporal > 35 |
Anticoncepcionais combinados hormonais orais, anel vaginal, Sistema Intra-Uterino (SIU), esterilização (laqueadura tubária) |
DIU com cobre, preservativo masculino, camisinha feminina e diafragma. |
Implante de etonorgestrel, adesivo transdérmico (??)
Menos eficazes se IMC >35 ? |
(*) Adaptada de Petra M. Casey & cols., Contraceptive Options for the Perimenopausal Woman.
A prescrição de um contraceptivo - em qualquer momento da fase reprodutiva da mulher - deve ser sempre precedida por uma rigorosa avaliação clínico-ginecológica. As peculiaridades hormonais do climatério tornam essa afirmativa uma exigência absoluta.
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Para saber mais sobre este assunto:
ANTICONCEPÇÃO - Manual de Orientação de FEBRASGO - 2004.
Anticoncepção no climatério - Wilson M. Y. Arie & cols - Revista Brasileira de Medicina, Edição Especial: Saúde da Mulher - Jan/Fev 2004.
Contraceptive Options for the Perimenopausal Woman - Petra M. Casey & cols. - Clinical Medicine: Reproductive Health :2 5–13 - 2008.
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Lembramos que os textos da série "A Saúde da Mulher" têm caráter estritamente informativo e de apoio,
não substituindo - em hipótese alguma - as relações de confiança entre médicos e pacientes. (CAC) |